Não era para escrever nada sobre o assunto do assassinato do jornalista Carlos Castro. Qualquer que tenha sido o móbil do crime, foi algo de hediondo e absolutamente condenável. Que seja apurada toda a verdade! Ponto final.
O que agora mais me preocupa é o facto de o fenómeno da violência entre bissexuais e homossexuais vir de uma forma generalizada para os programas da manhã, tarde e noite, com profusões ainda espalhadas pelos telejornais e revistas mais ou menos cor de rosa, como se toda a relação não heterossexual fosse agora sinónimo de um poço de violência.
Claro que pode haver violência. Como em todas as relações heterossexuais. Não deveria acontecer em nenhuma, é certo. Mas agora, pelos vistos, o mito vai ser difícil de desmistificar. E como o tema até é bom para conversas de café, podem apostar que se vai prolongar nas próximas semanas.
Por outro lado, creio que o caso do assassinato do Carlos Castro – horrível, friso uma vez mais – vai fazer regressar os estereótipos que até se tinham começado a esbater (ainda que lentamente), depois de aprovado casamento de pessoas do mesmo sexo.
Não quer isto dizer que quem não aceitasse passasse a aceitar, mas era algo que as mentes mais obscuras já se tinham habituado a ouvir.
Nos próximos dias, claro que se vão esquecer todos os casos de violência doméstica, muitos deles terminados em morte, que ao longo dos últimos anos foram preenchendo as páginas dos jornais. Todas as dezenas de vítimas mortais de violência heterossexual vão agora ser esquecidas. E não é preciso recuarmos muitas semanas para encontramos casos sinistros amplamente noticiados.
Mas agora é tudo o que se passa entre iguais que importa colocar em cima da mesa. Porque foge à norma. E, afinal, esse é um dos chamados valores-notícia.
E claro, há outras coisas que também vão ser postas de parte. Alguém mais ouviu falar em BPN ou eleições presidenciais? Pois, eu também não.