segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Generalizações? Não, obrigado!

Não era para escrever nada sobre o assunto do assassinato do jornalista Carlos Castro. Qualquer que tenha sido o móbil do crime, foi algo de hediondo e absolutamente condenável. Que seja apurada toda a verdade! Ponto final.

O que agora mais me preocupa é o facto de o fenómeno da violência entre bissexuais e homossexuais vir de uma forma generalizada para os programas da manhã, tarde e noite, com profusões ainda espalhadas pelos telejornais e revistas mais ou menos cor de rosa, como se toda a relação não heterossexual fosse agora sinónimo de um poço de violência.

Claro que pode haver violência. Como em todas as relações heterossexuais. Não deveria acontecer em nenhuma, é certo. Mas agora, pelos vistos, o mito vai ser difícil de desmistificar. E como o tema até é bom para conversas de café, podem apostar que se vai prolongar nas próximas semanas.

Por outro lado, creio que o caso do assassinato do Carlos Castro – horrível, friso uma vez mais – vai fazer regressar os estereótipos que até se tinham começado a esbater (ainda que lentamente), depois de aprovado casamento de pessoas do mesmo sexo.

Não quer isto dizer que quem não aceitasse passasse a aceitar, mas era algo que as mentes mais obscuras já se tinham habituado a ouvir.

Nos próximos dias, claro que se vão esquecer todos os casos de violência doméstica, muitos deles terminados em morte, que ao longo dos últimos anos foram preenchendo as páginas dos jornais. Todas as dezenas de vítimas mortais de violência heterossexual vão agora ser esquecidas. E não é preciso recuarmos muitas semanas para encontramos casos sinistros amplamente noticiados.

Mas agora é tudo o que se passa entre iguais que importa colocar em cima da mesa. Porque foge à norma. E, afinal, esse é um dos chamados valores-notícia.

E claro, há outras coisas que também vão ser postas de parte. Alguém mais ouviu falar em BPN ou eleições presidenciais? Pois, eu também não.

12 comentários:

  1. não me digas que agora o Cavaco vai ser reeleito por causa do Castro?
    Fora de brincadeiras, eu não escrevi sobre o tema porque só me tenho irritado. As conversas idiotas dos meus colegas e amigos enojam-me. Nas primeiras frases vê-se logo que ainda existe muito preconceito naquelas cabeças.

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  2. Francamente já não posso com esse assunto… Como sempre serve para criticar os “não heterossexuais” como se os heterossexuais não se matassem a todas as horas pelo mundo fora e pelas mais variadíssimas razões.
    De resto parece-me tipicamente português dar palpites sem se saber nada do assunto. Contudo se as pessoinhas consultassem dados e estudos científicos poderiam instruir-se. Mas não, elas é que são a sua própria fonte do saber. Felizmente ainda este ano tive oportunidade de fazer um artigo sobre violência no namoro e todas as fontes e artigos científicos que consultei referem uma maior prevalência de violência na intimidade nos casais heterossexuais. É certo que não há muitos estudos focados em casais gays e podem ser menos denunciados mas baseio-me naquilo que existe neste momento. Essas pessoas se querem ser úteis que vão fazer estudos e validar as suas opiniões preconceituosas.
    Abraço.

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  3. O que me faz confusão é que realmente parece que tudo no país parou por causa disso, pararam as restantes notícias e as mentalidades das pessoas
    "ai coitadinho do rapaz" "ai o que ele não devia sentir" "ai o desespero dele e agora daquela família por causa daquele homem" "ai que ele foi desviado"
    foi foi! Não me venham com tretas... toda a gente sabe que há quem use o corpo para subir ou abrir umas portas, não tenho que concordar nem deixar de discordar... mas se há quem o queira usar para isso... há que saber as consequências do que se está a propor e permitir.
    se pensava que era um favor sem nada em troca e se depara com uma situação de “faço-te isto por sexo” podia ter escolhido afastar-se... agora, quem dá o corpo ao manifesto tem tanta culpa como quem utiliza o corpo de alguém para dar algo em troca por isso. E o resto é história… não há justificação possível para se assasinar alguém. Se as pessoas não são fortes que se afastam, que partam para outra ou que não se cheguem a meter nelas!
    Agora é tal e qual como dizes... relações hetero passam a ser abençoadas ao passo que as outras são as violentas e tudo de mau... que mentalidades mais pequenininhas. Abraços ;)

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  4. Subscrevo na integra tudo o que foi dito.
    Não me vão ouvir falar muito do assunto. Foi um caso de violencia cruel entre dois seres. A orientação sexual de cada um é irrelevante.

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  5. A minha revolta começou ainda ontem, à hora do café, com bocas.
    Já hoje, cheguei a casa enjoado, enojado e revoltado com tanto comentário, tanta piada estúpida, tanta opinião formada.
    Parece que de repente todos são especilistas forenses e parece que de repente um crime como estes só aconteceu por serem 2 homens.
    Que raio!

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  6. Heteros, Homos ou seja o que fôr, a única coisa que me continua a chocar, apesar de saber bem a merda que geração que aí vem, é a amoralidade do ser humano.

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  7. tb me vou abster de comentar este caso. Acho que já é horrivel por si só e nada do que se possa dizer acrescenta o que quer que seja de interesse. é mais um crime violento.

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  8. @Speedy: acabei de ler o texto de opinião que publicaste e ainda fiquei mais preocupado. Há conversas, de facto, deprimentes. Mas acho que essas mentes quanto mais opinam, é porque menos seguras se devem sentir...

    @Psimento: por acaso, lembrei-me de ti ao escrever este texto, porque sabia que terias algo a dizer sobre a assunto que é, essencialmente comportamental... Por isso, a tua opinião dixit! :)

    @Ritchie: antes de mais, é bom ver que regressaste aos blogues. Creio que agora o que importa reter é mesmo não deixar as mentalidades pequeninas generalizarem ainda mais os preconceitos.

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  9. @Sôfrego: exacto. É aí que reside o essencial!

    @Mike: não sei se respondeste alguma coisa a essa gente... Mas às vezes não vale mesmo a pena porque elas não iriam compreender... ou não querem compreender...

    @LM: por acaso não tinha pensado nesse prisma. Mas que as gerações que agora estão a ser formadas são muito desprendidas, lá isso são... Moralidade? Isso compra-se na loja?! :)

    @Zeh: essencialmente é isso. Mas para os media há muito mais: há audiências. E em período de crise...

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  10. Este é um caso que pode ser analisado por diversos prismas.
    Foi um crime hediondo, praticado com requintes de selvajaria e isso é um facto objectivo.
    Pela natureza da orientação sexual dos dois indivíduos em questão, principalmente da vítima, a homofobia reinante na "vox publica" e nos media tem sido repugnante na exploração do caso.
    Se nos abstrairmos dos conteúdos sexual e sinistro do caso, aceito que seja um desafio para os profissionais da psiquiatria tentar explicar os porquês e os significados dos pormenores mais sórdidos (vi hoje o depoimento do Prof. Carlos Amaral Dias na entrevista com Judite de Sousa e aí foram ditas coisas interessantes, sob este ponto de vista).
    Todo o processo legal envolvente ainda vai dar muito que falar e será explorado até ao tutano, e da pior maneira por quem apenas está interessado em ganhar dinheiro (media) ou em atacar um comportamento aberrativo na sua limitada visão do que é a homossexualidade.
    Enfim, o país tem a novela que "precisava" para se falar menos dos problemas reais que o dilaceram.

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  11. @Pinguim: eu diria mesmo que este caso vai dar origem a inúmeras teses comportamentais de vária ordem!

    E não é que este tema acaba por ser o principal opositor às presidenciais?!

    Quanto ao resto, nunca pensei assistir a visões tão limitadas acerca da diferença. Enfim...

    Um abraço!

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