domingo, 13 de junho de 2010

Mudar?

Há dois dias, assim que o Blogger colocou um novo botão no painel, com opções de design – onde um balão se auto-abria, sugerindo templates – veio logo o Velho do Restelo que há em mim ao de cima. «O que é que estes querem agora? O design que escolhi está bem como está e não é agora que há mais bonecada que vou mudar», pensei.

Horas depois, começo a reparar que alguns dos blogues que visito tinham alterado os layouts, ao ponto de ter até dificuldade em os reconhecer (com mais ou menos intensidade, é inegável que os símbolos e signos visuais também são sinónimo de pertença e de identificação).

Pensamento imediato da minha parte: «eles arriscaram e eu não; eu quis manter tudo como estava». Dirão os mais conservadores: «se ele é assim num blogue, também é assim para a vida».

Não deixarão de ter alguma razão, mas facto é que primeiro terei de analisar se vale a pena mudar. E isto vale para o um simples blogue, como para a vida, como para um emprego.

Não é que não queira mudar. Isso não está automaticamente posto de parte! Mas tenho de analisar se isso vai trazer alguma coisa de bom. Porquê? Porque as cores actuais do blogue fui eu quem as escolhi, porque o desenho do Keith Haring fui eu quem o digitalizou, porque os elementos da página tiveram a sua coerência para ser escolhidos. Houve investimento pessoal e afectivo nas coisas.

E no fundo, é isso. Creio que só vale a pena mudar se essa mesma mudança fizer sentido, se for boa para mim e para os outros, se tiver significado. É por isso que optei por valorizar o que tinha escolhido em vez de seguir para um modelo pré-formatado, pronto a consumir.

Evidentemente que não estou a censurar quem o fez, antes pelo contrário. Admiro a capacidade de mudança e a tenacidade pessoal em não permanecer agarrado às normas de sempre, às mesmas rotinas. Mas há uma certa constância que preciso para sentir que as coisas não estão fugir, que os meus elementos de sempre e que me dão segurança estão lá.

No fundo, é como ter ou não apego aos objectos. E, nesse campo, sou um exemplo terrível: tudo o que tenho guardado tem um significado: o bilhete do concerto de há três anos, a concha da praia, o velho caderno de apontamentos, o jornal do acontecimento marcante ou o postal de há 10 anos atrás.

Se guardar as memórias me dá conforto? Dá. Se tudo isto dá trabalho e ocupa espaço? Nem vale a pena comentar. Se implica investimento afectivo? Oh yeah!

Mas não desisti de mudar. Melhor, de EVOLUIR.

14 comentários:

  1. Também guardo aqueles pequenos (ou grandes) objectos que me trazem à memória bons momentos (e sobretudo uma grande saudade)... Como concordo contigo no investimento afectivo... tão difícil por vezes de lidar com ele...
    Abraço

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  2. Achei que era a única a ter esse sentimento!
    Conheço essa sensação de controlfreak (q.b., eu sei) dos investimentos afectivos, das memórias, do trabalho que dá fazer alguma coisa nossa. Com o devido tempo, com a devida disponibilidade e gosto pessoal.

    Olha, já disse que gosto mesmo da tua escrita?
    Lol.

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  3. @Pinguim: Será um privilégio! Um abraço!

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  4. @Individual(mente): Há quem diga que esses objectos só ocupam espaço físico e afectivo, mas creio que sofreria muito mais se não os pudesse ter junto a mim! :) Quanto ao investimento afectivo, não é mensurável, mas temos de o saber dosear. Para nosso bem... Um abraço!

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  5. @YeuxdeFemme: Adorei essa tua expressão do «controlfreak»! :)

    É impressionante, mas muitas das coisas que pensamos que só nos atormentam a nós próprios, afinal são partilhadas por um grande número de pessoas, mesmo aquelas que estão ao nosso lado. E isso tanto se pode aplicar aos conceitos de solidão, desespero, hesitação, etc, etc.

    Enfim, com mais ou menos investimento pessoal, o mundo irá ser sempre complexo... Abracito e obrigado! :)

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  6. É verdade!
    Curiosa a quantidade de pensamentos e sentimentos que podemos sentir, sem saber que tantos outros partilham do mesmo.
    E a presunção de que somos únicos e originais e diferentes continua...
    Lol
    Não é grave, vendo pelo lado mais positivo.
    Não passa de uma questão de desencontros e encontros com as pessoas certas. :)

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  7. Eu gostei muito destas linhas. Mais do subjacente às mesmas. E até certo ponto identifiquei-me muito. Eu tenho muito apego às coisas. Custa-me muito "let go". Trago objectos comigo há anos, pela simbologia, ou pela emotividade a eles conectada. Tem um significado.

    Se me sinto agarrado ao passado? Se olho muito para trás? Sim, a ambas as perguntas. E às vezes gostaria de ser mais desprendido, porque o input emocional pode ser desgastante.

    Eu mudei o layout, mas tu sabes disso. Acho que no meu caso, não houve sentimento acrescido, porque era apenas uma tela em "preto", ando à minha procura, como escrevi. Contudo, se dificulta a leitura, diz-me e o blog reverte ao que era, porque antes conteúdo que aparência.

    Abraço.

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  8. @YeuxdeFemme: No fundo, gostamos de ser originais... sem o sermos...

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  9. @Pedro: Como disse lá em cima, quanto ao apego às coisas, pode até positivo e sinal de conforto. Agora o passado e que o ficou lá para trás, não passa disso mesmo: já decorreu. Resta o que está por vir...

    Quanto ao layout: se mudaste a tela em preto é porque precisavas. Mas olha que entre uma tela em preto e um céu cinzento com chuva... não há assim muita diferença! :):):) Abraço.

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  10. Eu já não sou tão apegado às coisas como era. A certa altura achei que com as mãos cheias do passado não tinha espaço para agarrar o presente e o futuro. A vida flui e quis entrar nesse fluxo de uma vez por todas sem grandes amarras.

    A mudança faz-me bem. Não acredito que é efectivamente uma mudança, antes a reinterpretação de todas as referências que estão coladas a nós como impressões digitais nas nossas células. A nossa segurança está sempre garantida porque o que no é essencail está lá. Apenas reorganizado. E temos espaço para crescer, evoluir, criar. Já me alonguei (ainda me alongaria mais por isso fico por aqui)...

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  11. @Silvestre: gostei dessa tua perspectiva da «reinterpretação»! Mas creio que é difícil, pelo menos para mim, perceber onde está essa segurança garantida. Creio que pode estar demasiado apegada aos objectos. Algo a rever... Abraço.

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  12. @Zoninho: completamente à vontade! Um abraço.

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