sexta-feira, 18 de junho de 2010

Uma possível resposta

Respondendo, em parte, às questões de ontem, deixo o excerto de um texto que hoje se cruzou comigo, da autoria de José Saramago. Não concordo com tudo o que é dito, mas encontrei algumas explicações. A versão completa pode ser vista aqui.

É verdade que podemos votar, é verdade que podemos, por delegação da partícula de soberania que se nos reconhece como cidadãos eleitores e normalmente por via partidária, escolher os nossos representantes no parlamento, é verdade, enfim, que da relevância numérica de tais representações e das combinações políticas que a necessidade de uma maioria vier a impor sempre resultará um governo. Tudo isto é verdade, mas é igualmente verdade que a possibilidade de acção democrática começa e acaba aí. O eleitor poderá tirar do poder um governo que não lhe agrade e pôr outro no seu lugar, mas o seu voto não teve, não tem, nem nunca terá qualquer efeito visível sobre a única e real força que governa o mundo, e portanto o seu país e a sua pessoa: refiro-me, obviamente, ao poder económico, em particular à parte dele, sempre em aumento, gerida pelas empresas multinacionais de acordo com estratégias de domínio que nada têm que ver com aquele bem comum a que, por definição, a democracia aspira. Todos sabemos que é assim, e contudo, por uma espécie de automatismo verbal e mental que não nos deixa ver a nudez crua dos factos, continuamos a falar de democracia como se se tratasse de algo vivo e actuante, quando dela pouco mais nos resta que um conjunto de formas ritualizadas, os inócuos passes e os gestos de uma espécie de missa laica.

Já agora, também gostei deste texto.

2 comentários:

  1. É mesmo somo como joguetes nas mãos de salas de reuniões em alguma mega multi nacional.

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  2. Endim Mawess: ou nalguma sala oval dos EUA... Abraço.

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