domingo, 6 de junho de 2010

Se eu tenho um ideal?

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.



Sophia de Mello Breyner Andressen

6 comentários:

  1. Gosto tanto deste poema. Tinha-o perdido algures na minha mente. O meu ideal é também esse "tu".
    :)
    Abraço.

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  2. @Pedro: este é um daqueles poemas que sei de cor - e não tenho assim tantos decorados! Onde é que andará esse «tu» ideal? Será que existe?

    Um abraço!

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  3. Tem que existir. Se eu existo. Por silogismo haverá então outro "tu".

    :)

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  4. A "minha" Sophia!!!!
    Sempre que a reencontro, me sinto bem.

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  5. @Pedro: Não duvido que ambas as coisas existirão. Aliás, perante tão bem estruturado argumento, não posso sequer retorquir! :)

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  6. @Pinguim: Há textos que nos reconfortam. É mais ou menos como rever os amigos do peito, depois de algum tempo. Este, creio que será um deles!

    Um abraço.

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